CUNHA,
Luiz Manoel Castro da. Literatura e fotografia: um processo de intersemiose na
obra de João Cabral de Melo Neto. ENCONTRO NACIONAL DE PROFESSORES DE LETRAS E
ARTES, 2, 2004, Campos dos Goytacazes. Anais
eletrônicos... Campos dos Goytacazes: Essentia Editora, 2004. Disponível AQUI.
O
texto de Luiz Manoel Castro da Cunha integra a sua dissertação, a qual discute
o processo de adaptação de linguagens verbais para não-verbais (literatura e
fotografia), partindo do pressuposto de que ambas não funcionam enquanto mera
ilustração da outra, porém são complementares. Com isso enfoca o processo de
tradução intersemiótica entre as obras “O cão sem plumas” (1984) de João Cabral
de Melo Neto e a fotografia de Maureen Bisilliat.
O
autor introduz seu artigo considerando que as linguagens artísticas não são
estanques e isoladas, pois processos híbridos têm se intensificado desde a
Revolução Industrial. A invenção da fotografia impôs mudanças no meio artístico
durante o início do século XX, algumas vanguardas começaram a pensar o mundo de
outras maneiras – caso do cubismo e surrealismo.
Maureen Bissiliat |
Esse
processo de transposição é sinônimo do que Roman
Jakobson chama de Tradução Intersemiótica – nesse sentido a poesia se destaca
na quantidade de diálogos que estabelece com outras linguagens artísticas.
Lembra-se, inclusive, que os primeiros poemas da literatura ocidental eram
cantados e dançados, configurando, assim, natural abertura ao gestual (performático).
Maureen Bissiliat |
Compreender
esse conceito de intersemiose e tradução criativa reforça a ideia de complementariedade
entre as linguagens, ao invés da sobreposição entre elas. “Há imagens que não
podem ser substituídas por mil palavras, da mesma forma que elas não podem
substituir a informação verbal. Elas nos atingem por caminhos diferentes e,
exatamente por isso, se complementam tão bem. A palavra é racional,
dissertativa, prolixa. A imagem, emocional, sintética, direta. A palavra pode
expor com clareza uma idéia, conceituar com precisão. A imagem é de natureza
mais onírica (incluindo-se aí os pesadelos), mas ilógica e nebulosa. É
insubstituível para transmitir, num relance, toda a emoção de um evento, mas
falha ao tentar analisá-lo.” (KUBRUSLY, 1997, p. 77 apud CUNHA, 2004, p. 3)
Destaca-se
que as diferenças entre poesia e fotografia equivale às particularidades entre
a comunicação verbal e a não-verbal, a imagem mental e a imagem visual, uma
apreensão conceitual e uma percepção direta.
Assim, de acordo com o autor, há dificuldades (ou até mesmo
impossibilidades) de transmitir uma mesma mensagem de um sistema de signos para
outro; de tal modo “[...] a tradução intersemiótica ou transmutação, isto é, a
passagem de uma poética verbal para um sistema não-verbal não se estabelece a
partir de uma relação de equivalência direta.” (p.3)
Com
base nas considerações mencionadas, o autor conclui que “a equivalência entre o
poema e fotos só pode ser tomada como uma proposta que obteve sucesso se
considerarmos que ela ocorreu na medida em que a linguagem visual processou uma
tradução criativa do poema, fazendo com que cada uma agregasse um valor
diferencial à obra literário fotográfica.” (p.4)
Referência
KUBRUSLY,
Cláudio. O que é fotografia. São
Paulo: Brasiliense, 1991.
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