As
artistaspoetas / poetasartistas Karina Rabinovitz e Silvana Rezende exercem e
avançam nas mais variadas possibilidades de perceber e conceber a poesia.
Juntas realizam consistentes processos de contaminação. A poesia (que é vista,
percebida, tateada, pressentida, enfim captada por toda espécie de sentidos),
chega em palavra, verte em escritura, passeia pela imagem, fala aos ouvidos,
convida ao toque – ou em ordens totalmente inversas a esta sequência descrita.
Híbrido
e interdisciplinar (por si, justificável para figurar aqui nesta
pesquisa/processo enquanto um potente referencial artístico): a essência das
produções está centrada nesses dois elementos. A literatura nas artes visuais /
as artes visuais na literatura + outras, muitas e mais outras ciências que
falam a linguagem da poesia.
Em
2013 o Museu de Artes Moderna da Bahia (MAM) recebeu a exposição O LIVRO de
água, produção multiartística de Karina Rabinovitz e Silvana Rezende. O espaço
vibrava poesia em diversas formas e formatos: instalações, videoinstalações,
videoescultura, videoprojeções mapeadas e objetos gráficos – como o próprio
livro-objeto que reúne poemas visuais. Em todas essas configurações a poesia
apresentava-se. A livre regra nesses cruzamentos era uma só: explorar a
visualidade da poesia lírica num contexto de múltiplas linguagens artísticas.
Karina
é poeta da palavra escrita e falada, Silvana poeta das imagens visuais e
sonoras. Ambas transitam mutuamente nessas duplas, triplas, múltiplas
possibilidades de processar a poesia que voa, anda, venta, mergulha, navega...
Iniciaram uma parceria ainda em 2005 e desde lá trilham conforme essa música: o
casamento das linguagens.
Os
ingredientes que procuro aos quatro ventos nessa pesquisa (convergência entre o
corpo, imagem e texto em esferas do digital), fazem-se perfeitamente presentes
nestas obras que pincelo a seguir:
Banho
de poesia (2012): uma instalação na qual são projetadas de cima algumas
palavras que compõe versos, cujo dinamismo e efeito visual convidam o fruidor a
posicionar-se abaixo da projeção, submetendo-se ao “banho” proposto e tornando
o corpo um suporte às reescritas do texto.
Banho de poesia. |
Poesia
telegráfica (2011): videoinstalação/videoescultura que consiste em projeções de
vídeos mapeadas em esculturas, acionadas por um telégrafo. Os quatro vídeos que
compõem a série “andarilho-ilha” são de cenas do mar e/ou que o envolvem como
localização/contexto; registram o outro em sua relação com a água, espreitando
esse cotidiano rodeado por águas e suas múltiplas significações.
Poesia telegráfica. |
Imagens para ler. |
O
trabalho realizado pelas artistas caracteriza-se como uma obra contemporânea
por excelência, pois usufrui das aberturas que esta lhe oferece: os
esgarçamentos de fronteiras linguísticas, a arte processo, a
interdisciplinaridade e interatividade. Compõe uma poética que aborda o
elemento água – vasto de leituras, rico metaforicamente – e reflete os
meios/territórios e aqueles que os habitam, recontextualizando os cotidianos em
imagens lítero-artísticas.
AQUI neste diário de trans_bordo encontram-se registros do navegares. Todas
as imagens foram retiradas de lá e são de autoria das artistas.