13.11.14

Karina Rabinovitz / Silvana Rezende

As artistaspoetas / poetasartistas Karina Rabinovitz e Silvana Rezende exercem e avançam nas mais variadas possibilidades de perceber e conceber a poesia. Juntas realizam consistentes processos de contaminação. A poesia (que é vista, percebida, tateada, pressentida, enfim captada por toda espécie de sentidos), chega em palavra, verte em escritura, passeia pela imagem, fala aos ouvidos, convida ao toque – ou em ordens totalmente inversas a esta sequência descrita.
Híbrido e interdisciplinar (por si, justificável para figurar aqui nesta pesquisa/processo enquanto um potente referencial artístico): a essência das produções está centrada nesses dois elementos. A literatura nas artes visuais / as artes visuais na literatura + outras, muitas e mais outras ciências que falam a linguagem da poesia.
Em 2013 o Museu de Artes Moderna da Bahia (MAM) recebeu a exposição O LIVRO de água, produção multiartística de Karina Rabinovitz e Silvana Rezende. O espaço vibrava poesia em diversas formas e formatos: instalações, videoinstalações, videoescultura, videoprojeções mapeadas e objetos gráficos – como o próprio livro-objeto que reúne poemas visuais. Em todas essas configurações a poesia apresentava-se. A livre regra nesses cruzamentos era uma só: explorar a visualidade da poesia lírica num contexto de múltiplas linguagens artísticas.
Karina é poeta da palavra escrita e falada, Silvana poeta das imagens visuais e sonoras. Ambas transitam mutuamente nessas duplas, triplas, múltiplas possibilidades de processar a poesia que voa, anda, venta, mergulha, navega... Iniciaram uma parceria ainda em 2005 e desde lá trilham conforme essa música: o casamento das linguagens.
Os ingredientes que procuro aos quatro ventos nessa pesquisa (convergência entre o corpo, imagem e texto em esferas do digital), fazem-se perfeitamente presentes nestas obras que pincelo a seguir:
Banho de poesia (2012): uma instalação na qual são projetadas de cima algumas palavras que compõe versos, cujo dinamismo e efeito visual convidam o fruidor a posicionar-se abaixo da projeção, submetendo-se ao “banho” proposto e tornando o corpo um suporte às reescritas do texto.
Banho de poesia.
Poesia telegráfica (2011): videoinstalação/videoescultura que consiste em projeções de vídeos mapeadas em esculturas, acionadas por um telégrafo. Os quatro vídeos que compõem a série “andarilho-ilha” são de cenas do mar e/ou que o envolvem como localização/contexto; registram o outro em sua relação com a água, espreitando esse cotidiano rodeado por águas e suas múltiplas significações.
Poesia telegráfica.
Imagens para ler (2012): projeções mapeadas em cadernos, mostram vídeos compostos por imagens e palavras no ato da escrita; o gesto de grafar é a performance-processo criativo, o que alimenta ainda mais o caráter híbrido da exposição.
Imagens para ler.
O LIVRO de água em si é um livro-objeto composto por laudas soltas (fotografias) de poemas escritos à mão. Trata-se de folhas e cadernos que voaram/pousaram em ambientes diversos, numa escrita performada em vários contextos de água.
 
O trabalho realizado pelas artistas caracteriza-se como uma obra contemporânea por excelência, pois usufrui das aberturas que esta lhe oferece: os esgarçamentos de fronteiras linguísticas, a arte processo, a interdisciplinaridade e interatividade. Compõe uma poética que aborda o elemento água – vasto de leituras, rico metaforicamente – e reflete os meios/territórios e aqueles que os habitam, recontextualizando os cotidianos em imagens lítero-artísticas.



AQUI neste diário de trans_bordo encontram-se registros do navegares. Todas as imagens foram retiradas de lá e são de autoria das artistas.