28.1.15

Fotografia e texto: Conexões e interações na arte contemporânea

ÂNGELO, Roberto Berton de. Fotografia e texto: Conexões e interações na arte contemporânea. ENCONTRO ANUAL DA COMPÓS - ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO, 15., 2006, Bauru. Anais eletrônicos... Bauru: UNESP, 2006. Disponível AQUI.

Inter-relações entre diversas disciplinas artísticas multiplicam-se desde o início do século passado, de acordo com Roberto Berton de Ângelo. O autor considera que se trabalha em linguagens textuais para se evocar imagens e ideias, mas também é possível converter imagens em conceitos verbais; assim, em ambas as linguagens a imagem é um pressuposto básico: são particulares os modos como ela se expressa e as ferramentas utilizadas para manipula-la.
Segundo o autor, o estudo do uso simultâneo da fotografia e texto na arte contemporânea resultou no nascimento da Arte Conceitual, nos anos 1960 – antes disso os dadaístas já se utilizavam de formas de expressão pluriartísticas, o que funcionaram como antecedentes na criação e utilização de foto-textos.
Raoul Haussmann e Kurt Schwetters, por exemplo, realizaram inscrições de letras e de sugestões fonéticas em suas obras gráficas (desenvolveram novo campo de representação gráfica, acrescidas de manifestações performáticas e vocais). “As relações entre imagem e texto, desde então, têm-se operado segundo os eixos do legível, do visível e do audível, sem que haja verdadeiramente uma hierarquia entre estes modos de apreensão.” (p.2)
Roland Barthes foi incitado pela plasticidade da escritura (em suas “contra-escrituras); ele e outros artistas e escritores se dedicaram a explorar “outras dimensões gestuais e a inventarem escrituras para além de todo conteúdo semântico determinado.” (p.2)
O emblemático Marcel Duchamp também foi precursor de operações com texto e imagem, a exemplo de sua obra de 1965, “L.H.O.O.Q. Rosée” (L.H.O.O.Q. Barbeada) – uma reprodução fotográfica de Mona Lisa; a inscrição lida foneticamente em francês é “Elle a chaud au cul” (Ela tem fogo no rabo), o que denota a sarcástica gozação do artista.
Foto-textos foram utilizadas pelos construtivistas El Lissitzky, Rodchenko e Klucis; pelos dadaístas Schwitters, Haussmann e Heartfield e por vários artistas da Bauhaus. Os trabalhos eram orientados a um engajamento social, cujo foco era o caráter crítico, apelativo e educacional. “Nos foto-textos, o tema é introduzido, em termos básicos, através da fotografia, cabendo ao texto, muitas vezes de forma irônica, uma linha-guia para a ação.” (p.3)
A ocorrência de texto em imagens fotográficas se efetua desde a utilização de palavras únicas (como em obras de Gilbert e George), tanto na incorporação de pequenas narrativas escritas à mão e dispostas ao lado de fotografias (Duane Michals), ou frases revolucionárias escritas sobre as fotos (Joseph Beuys) e ainda a partir de arranjos tipográficos coloridos, conjugados às fotografias (Ken Lum). No geral, conforme palavras do autor, a palavra impressa se torna mais um elemento estético da representação visual.
Em suas obras, o artista Duane Michals experimenta variadas formas de cruzamento: imagem única legendada, imagem única acompanhada de um texto, sequência de fotografias com um texto, fotografia pintada ou acompanhada de um desenho, ou de um texto curto em prosa ou poema.
 Outros artistas e obras destacados por Roberto Berton de Ângelo são: Bárbara Krueger (“Who will write the history of tears?”, 1987), Jochen Gerz (“Your Art #9”, 1991), Bernard Foucon (“Écritures”, 1991-1993), On Kawara (“I got up...”, 1973”), Laura Padgett, (“Coming Black”, 1996), Joseph Beuys (La rivoluzione siamo Noi, 1972) e Ketty La Rocca (Un satiro, 1974), dentre outros.
Por fim, destaco uma consideração de conclusão do autor: “O artista sabe que realidade é sempre percebida através da visão de um meio e afetada pelas intenções de quem a vê. O artista leva em consideração as leis da imagem fotográfica e as peculiaridades da palavra impressa. Encontramos na arte contemporânea formas estéticas mistas de linguagem textual e a linguagem fotográfica, e a ligação entre fotografia e texto nos permite estabelecer novos vínculos colaborativos. O observador, por sua vez, pode criar novas relações entre texto e imagem apresentados nos trabalhos, pois esta inter-relação favorece a criação de um espaço reflexivo, que convida o observador a vagar em suas apreensões, legendas e histórias.” (p.11)


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Por ordem decrescente: imagem 1, 2 e 3 de Duane Michals ; 4 e 5 de Bernard Foucon; 6 e 7 de Bárbara Krueger e 9 de On Kawara.

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