ÂNGELO, Roberto
Berton de. Fotografia e texto: Conexões e interações na arte contemporânea.
ENCONTRO ANUAL DA COMPÓS - ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM COMUNICAÇÃO, 15., 2006, Bauru. Anais
eletrônicos... Bauru: UNESP, 2006. Disponível AQUI.
Inter-relações entre diversas disciplinas artísticas
multiplicam-se desde o início do século passado, de acordo com Roberto Berton
de Ângelo. O autor considera que se trabalha em linguagens textuais para se
evocar imagens e ideias, mas também é possível converter imagens em conceitos
verbais; assim, em ambas as linguagens a imagem é um pressuposto básico: são
particulares os modos como ela se expressa e as ferramentas utilizadas para manipula-la.
Segundo o autor, o estudo do uso simultâneo da
fotografia e texto na arte contemporânea resultou no nascimento da Arte
Conceitual, nos anos 1960 – antes disso os dadaístas já se utilizavam de formas
de expressão pluriartísticas, o que funcionaram como antecedentes na criação e
utilização de foto-textos.
Raoul
Haussmann e Kurt Schwetters, por exemplo, realizaram inscrições de letras e de
sugestões fonéticas em suas obras gráficas (desenvolveram novo campo de
representação gráfica, acrescidas de manifestações performáticas e vocais). “As
relações entre imagem e texto, desde então, têm-se operado segundo os eixos do
legível, do visível e do audível, sem que haja verdadeiramente uma hierarquia
entre estes modos de apreensão.” (p.2)
Roland
Barthes foi incitado pela plasticidade da escritura (em suas
“contra-escrituras); ele e outros artistas e escritores se dedicaram a explorar
“outras dimensões gestuais e a inventarem escrituras para além de todo conteúdo
semântico determinado.” (p.2)
O
emblemático Marcel Duchamp também foi precursor de operações com texto e
imagem, a exemplo de sua obra de 1965, “L.H.O.O.Q. Rosée” (L.H.O.O.Q. Barbeada)
– uma reprodução fotográfica de Mona Lisa; a inscrição lida foneticamente em
francês é “Elle a chaud au cul” (Ela tem fogo no rabo), o que denota a
sarcástica gozação do artista.
Foto-textos
foram utilizadas pelos construtivistas El Lissitzky, Rodchenko e Klucis; pelos
dadaístas Schwitters, Haussmann e Heartfield e por vários artistas da Bauhaus.
Os trabalhos eram orientados a um engajamento social, cujo foco era o caráter
crítico, apelativo e educacional. “Nos foto-textos, o tema é introduzido, em
termos básicos, através da fotografia, cabendo ao texto, muitas vezes de forma
irônica, uma linha-guia para a ação.” (p.3)
A
ocorrência de texto em imagens fotográficas se efetua desde a utilização de
palavras únicas (como em obras de Gilbert e George), tanto na incorporação de pequenas
narrativas escritas à mão e dispostas ao lado de fotografias (Duane Michals),
ou frases revolucionárias escritas sobre as fotos (Joseph Beuys) e ainda a
partir de arranjos tipográficos coloridos, conjugados às fotografias (Ken Lum).
No geral, conforme palavras do autor, a palavra
impressa se torna mais um elemento estético da representação visual.
Outros
artistas e obras destacados por Roberto Berton de Ângelo são: Bárbara Krueger
(“Who will write the history of tears?”, 1987), Jochen Gerz (“Your Art #9”,
1991), Bernard Foucon (“Écritures”, 1991-1993), On Kawara (“I got up...”, 1973”),
Laura Padgett, (“Coming Black”, 1996), Joseph Beuys (La rivoluzione siamo Noi,
1972) e Ketty La Rocca (Un satiro, 1974), dentre outros.
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Por ordem decrescente: imagem 1, 2 e 3 de Duane Michals ; 4 e 5 de Bernard Foucon; 6 e 7 de Bárbara Krueger e 9 de On Kawara.
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