13.2.15

Laboratórios de Si: Criações Poéticas em Fotografia

Design: Kelvin Marinho
Tratou-se de uma oficina teórico-prática realizada nos dias 03, 05, 10 e 11/02, ministrada por mim e por Kelvin Marinho, integrantes do LabCIC (Laboratório Corpo/Imagem/Convergência: processos poéticos no digital). Nos encontros discutimos MEMÓRIA, ESPAÇOS, ERRÂNCIAS URBANAS e o cruzamento entre FOTOGRAFIA e TEXTO
Contamos com a participação de jovens estudantes oriundos de Cachoeira, São Félix, Santo Antônio de Jesus, Feira de Santana e Valença. Alguns deles graduandos na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, em cursos como Artes Visuais, Comunicação Social, Cinema e Audiovisual e História.
Dialogamos acerca do olhar fotográfico, apresentando alguns conceitos básicos da fotografia e possibilidades de explorações criativas dos espaços urbanos; falamos sobre processos fotográficos atrelados à criação literária, sobretudo o uso de dispositivos móveis na arte contemporânea.
Conversamos sobre Errâncias Urbanas e lançamos a proposta de uma pesquisa poético-fotográfica em espaços de Cachoeira e São Félix. Enquanto errantes, os fotógrafos participantes deveriam dedicar-se à percepção mais apurada de cenas, objetos, pessoas e particularidades dos lugares que explorassem. Essa apreensão deveria ser registrada também texto, o qual integraria posteriormente os resultados artísticos.
Nessa primeira etapa da oficina nos encontramos na ONG Casa de Barro – Cultura Arte Educação (localizada em Cachoeira), intercalando as reuniões com saídas fotográficas. Num momento posterior, nos dirigimos ao Centro de Artes Humanidade e Letras, rumo ao Laboratório MAC 2, a fim de experimentar práticas da manipulação da imagem digital. Lançamos a proposta de que fosse experimentado o texto na foto, mediante o uso de recursos do Adobe Photoshop, somado também a manipulação/edição manual das imagens.

2.2.15

acerca de LOMOGRAFIA

A lomografia busca aliar facilidade e praticidade, somada à criatividade e diversão para registrar o cotidiano – desde cenas, personagens, objetos. Esse modo de fazer surgiu em meados da década de 1990, quando dois austríacos, dispondo de uma câmera russa de baixo custo, passaram a fotografar o que lhes chamava atenção, independe da sua importância.
Foi durante a Guerra Fria que o general Igor Petrowitsch Kornitzky, do Ministério da Indústria e da Defesa Soviética, encomendou da empresa Lomo, a produção de câmeras baratas e compactas, acessíveis às famílias soviéticas, para que estas pudessem registrar o seu cotidiano. A ação funcionou como uma estratégia da URRS para realizar propagandas do estilo de vida soviético.
Voltando para a história dos austríacos, tratava-se dos estudantes Wolfgang Stranzinger e Matthias Fiegl, que durante as férias experimentaram a câmera russa e ficaram interessados nos efeitos luminosos, de cores e desfoques que imprimiam nas fotos. As câmeras se espalharam por Viena e por volta de 1995, criou-se a Sociedade Lomográfica, o que incentivou a retomada de seu fabrico.
Lomografia refere-se a uma “[...] técnica de realizar fotos do cotidiano, de forma rápida, sem que haja preparação ou preocupação com o que irá aparecer na foto. O visor geralmente não é utilizado e as fotos não são encenadas. [...] O método lomográfico utiliza experiências com filmes, filtros e processos de revelação diferenciados. Um ponto marcante da lomografia é o baixo custo das máquinas e a facilidade em manuseá-las.” (CALAÇA, 2010, p.2) A estética lomográfica diferenciada geralmente vale-se de múltiplas exposições, cores saturadas – obtidas através de processamento cruzado dos negativos –, erros de foco e superexposições.
Percebe-se no modo de fazer lomográfico uma valorização maior da apreciação do objeto antes e após o registro; se preza a percepção apurada aos aspectos cotidianos – nisso a figura do lomógrafo aproxima-se ao do flâneur, que anda aberto às apreensões de cenas e aspectos nos espaços percorridos. Refletindo esse aspecto, Lidiane Oliveira e Paulo Roberto Leal comentam que “É justamente essa automação no ato de fotografar e de ver o resultado que a fotografia digital apresenta, que a lomografia e a fotografia analógica dispensam. A lomografia preza pelo instante fotografado, importa-se mais com o objeto a ser fotografado do que com a fotografia em si. O lomógrafo tem que estar em sintonia com o que está acontecendo ao seu redor, visto que muitas câmeras lomos não possuem nem visor.” (2011, p.2)
Os autores acima referidos também refletem o fenômeno de banalização da fotografia, muito alimentada pelo processo de domínio da fotografia digital (que inclui não somente as câmeras, mas todo o aparato de digitalização que permite o armazenamento e compartilhamento dos dados numéricos). De modo geral, consideram que o domínio público da imagem abriu espaço para um “bordel sem paredes” – como define Marshall Macluhan. Esse aspecto potencializou o efeito de “prostituição e violação da imagem que os bens compartilhados por massa provocam” (OLIVEIRA; LEAL, 2010, p.3)
Trata-se de um modo de fotografar que preza a espontaneidade, o acaso e dispensa técnicas formais. Pensando nesses aspectos a Sociedade Lomográfica criou as 10 regras de ouro que são:
1.       Leve a sua câmera aonde você for.
2.       Use sua câmera a qualquer hora, dia ou noite.
3.       A Lomografia não interfere na sua vida, ela é parte dela.
4.       Experimente fotografar a partir da cintura (isto é, sem enquadrar com os olhos).
5.       Aproxime-se o máximo que puder de seu objeto de desejo lomográfico.
6.       Não pense.
7.       Seja rápido.
8.       Você não precisa saber antes o que fotografou.
9.      E nem (saber) depois.
10. Não se preocupe com as regras.
Os adeptos da lomografia procuram captar, sempre que possível, objetos que lhes chame atenção, de qualquer ângulo, sem necessariamente seguir regras de composição, porém isso não subentende que fotografem por acaso e livre de qualquer critério: deve-se pensar no que fotografar e porque.
Os lomógrafos estão sempre em busca de cenas corriqueiras que se sobressaem pelos efeitos de cor e características outras determinadas pelo manuseio de cada aparelho. Esse diferencial, conforme Françoise Soulage (em “Estética da Fotografia: perda e permanência”), se caracteriza enquanto estilo – o que atribui uma essência artística ao objeto fotográfico, segundo o autor.
A estética lomográfica, somada à sua poética da incerteza e imperfeição, talvez sejam as suas principais marcas artísticas. Toda essa configuração auxilia uma ressignificação de banais cenas cotidianas, pois inserem pontos de vista que modificam o estado comum do que é retratado. Sobre isso o autor afirma que “Apesar de manter as características das fotografias cotidianas (recortando um espaço e tempo) ela traz informações e experiências formais e informais. Sendo este diferencial pautado na arte que transmite uma série de sentimentos e emoções, independente de quem seja o leitor. Nesse sentido é possível olhar para a lomografia como uma abstração da realidade.” (CALAÇA, 2010, p.5)
Pode-se retomar, em conclusão, que na lomografia ocorre “[...] a intenção de romper com as regras da fotografia comum [e que] a imagem lomográfica vem para trazer movimento, cor e particularidades à fotografia cotidiana.” (CALAÇA, 2010, p.5)

Referências
CALAÇA, Mariana Capeletti. Lomografia: uma forma artística de documentação do cotidiano. In: CONGRESSO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO NA REGIÃO CENTRO-OESTE, 12, 2010, Goiânia. Anais eletrônicos... Goiânia: Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, 2010. Disponível AQUI.
OLIVEIRA, Lidiane A. de; LEAL, Paulo Roberto Figueira. O analógico na era digital: a Sociedade Lomográfica. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 34, 2011, Recife. Anais eletrônicos... Recife: Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, 2011. Disponível AQUI.
SOULAGES, François. Estética da Fotografia: perda e permanência. São Paulo: Editora Senac, 2010
SOCIEDADE LOMOGRÁFICA – Disponível em: www.lomography.com