A
lomografia busca aliar facilidade e praticidade, somada à criatividade e
diversão para registrar o cotidiano – desde cenas, personagens, objetos. Esse modo de fazer surgiu em meados da década de 1990, quando dois austríacos, dispondo
de uma câmera russa de baixo custo, passaram a fotografar o que lhes chamava
atenção, independe da sua importância.
Foi
durante a Guerra Fria que o general Igor Petrowitsch Kornitzky, do Ministério
da Indústria e da Defesa Soviética, encomendou da empresa Lomo, a produção de câmeras baratas e compactas, acessíveis às
famílias soviéticas, para que estas pudessem registrar o seu cotidiano. A ação
funcionou como uma estratégia da URRS para realizar propagandas do estilo de
vida soviético.
Voltando
para a história dos austríacos, tratava-se dos estudantes Wolfgang Stranzinger
e Matthias Fiegl, que durante as férias experimentaram a câmera russa e ficaram
interessados nos efeitos luminosos, de cores e desfoques que imprimiam nas
fotos. As câmeras se espalharam por Viena e por volta de 1995, criou-se a
Sociedade Lomográfica, o que incentivou a retomada de seu fabrico.
Lomografia
refere-se a uma “[...] técnica de realizar fotos do cotidiano, de forma rápida,
sem que haja preparação ou preocupação com o que irá aparecer na foto. O visor
geralmente não é utilizado e as fotos não são encenadas. [...] O método
lomográfico utiliza experiências com filmes, filtros e processos de revelação
diferenciados. Um ponto marcante da lomografia é o baixo custo das máquinas e a
facilidade em manuseá-las.” (CALAÇA, 2010, p.2) A estética lomográfica
diferenciada geralmente vale-se de múltiplas exposições, cores saturadas – obtidas
através de processamento cruzado dos negativos –, erros de foco e
superexposições.
Percebe-se
no modo de fazer lomográfico uma valorização
maior da apreciação do objeto antes e após o registro; se preza a percepção
apurada aos aspectos cotidianos – nisso a figura do lomógrafo aproxima-se ao do
flâneur, que anda aberto às apreensões
de cenas e aspectos nos espaços percorridos. Refletindo esse aspecto, Lidiane
Oliveira e Paulo Roberto Leal comentam que “É justamente essa automação no ato
de fotografar e de ver o resultado que a fotografia digital apresenta, que a
lomografia e a fotografia analógica dispensam. A lomografia preza pelo instante
fotografado, importa-se mais com o objeto a ser fotografado do que com a
fotografia em si. O lomógrafo tem que estar em sintonia com o que está
acontecendo ao seu redor, visto que muitas câmeras lomos não possuem nem visor.”
(2011, p.2)
Os
autores acima referidos também refletem o fenômeno de banalização da
fotografia, muito alimentada pelo processo de domínio da fotografia digital
(que inclui não somente as câmeras, mas todo o aparato de digitalização que
permite o armazenamento e compartilhamento dos dados numéricos). De modo geral,
consideram que o domínio público da imagem abriu espaço para um “bordel sem paredes”
– como define Marshall Macluhan. Esse aspecto potencializou o efeito de “prostituição
e violação da imagem que os bens compartilhados por massa provocam” (OLIVEIRA;
LEAL, 2010, p.3)
Trata-se
de um modo de fotografar que preza a espontaneidade, o acaso e dispensa
técnicas formais. Pensando nesses aspectos a Sociedade Lomográfica criou as 10
regras de ouro que são:
1.
Leve
a sua câmera aonde você for.
2.
Use
sua câmera a qualquer hora, dia ou noite.
3.
A
Lomografia não interfere na sua vida, ela é parte dela.
4.
Experimente
fotografar a partir da cintura (isto é, sem enquadrar com os olhos).
5.
Aproxime-se
o máximo que puder de seu objeto de desejo lomográfico.
6.
Não
pense.
7.
Seja
rápido.
8.
Você
não precisa saber antes o que fotografou.
9. E nem (saber) depois.
10. Não se preocupe com as regras.
Os
adeptos da lomografia procuram captar, sempre que possível, objetos que lhes
chame atenção, de qualquer ângulo, sem necessariamente seguir regras de
composição, porém isso não subentende que fotografem por acaso e livre de
qualquer critério: deve-se pensar no que fotografar e porque.
Os
lomógrafos estão sempre em busca de cenas corriqueiras que se sobressaem pelos
efeitos de cor e características outras determinadas pelo manuseio de cada
aparelho. Esse diferencial, conforme Françoise Soulage (em “Estética da
Fotografia: perda e permanência”), se caracteriza enquanto estilo – o que
atribui uma essência artística ao objeto fotográfico, segundo o autor.
A
estética lomográfica, somada à sua poética da incerteza e imperfeição, talvez
sejam as suas principais marcas artísticas. Toda essa configuração auxilia uma ressignificação
de banais cenas cotidianas, pois inserem pontos de vista que modificam o estado
comum do que é retratado. Sobre isso o autor afirma que “Apesar de manter as
características das fotografias cotidianas (recortando um espaço e tempo) ela
traz informações e experiências formais e informais. Sendo este diferencial
pautado na arte que transmite uma série de sentimentos e emoções, independente
de quem seja o leitor. Nesse sentido é possível olhar para a lomografia como
uma abstração da realidade.” (CALAÇA, 2010, p.5)
Pode-se
retomar, em conclusão, que na lomografia ocorre “[...] a intenção de romper com
as regras da fotografia comum [e que] a imagem lomográfica vem para trazer
movimento, cor e particularidades à fotografia cotidiana.” (CALAÇA, 2010, p.5)
Referências
CALAÇA,
Mariana Capeletti. Lomografia: uma forma artística de documentação do
cotidiano. In: CONGRESSO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO NA REGIÃO CENTRO-OESTE, 12,
2010, Goiânia. Anais eletrônicos... Goiânia:
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação,
2010. Disponível AQUI.
OLIVEIRA,
Lidiane A. de; LEAL, Paulo Roberto Figueira. O analógico na era digital: a Sociedade Lomográfica. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 34, 2011, Recife. Anais eletrônicos... Recife: Intercom –
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, 2011. Disponível AQUI.
SOULAGES,
François. Estética da Fotografia:
perda e permanência. São Paulo: Editora Senac, 2010
SOCIEDADE
LOMOGRÁFICA – Disponível em: www.lomography.com
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